Podagem das árvores

1. INTRODUÇÃO

Árvores na zona urbana e poda é uma relação tão arraigada na mente das pessoas, que muitas vezes se cometem grandes erros sob a ilusão de estar realizando a prática mais acertada.

A poda de árvores é uma agressão a um organismo vivo – a árvore – que possui estrutura e funções bem definidas e alguns mecanismos e processos de defesa contra seus inimigos naturais.

Contra a poda e suas conseqüências danosas não existe defesa, a não ser a tentativa de recompor a estrutura original, definida genéticamente. Isto no entanto não significa que a poda deva ser totalmente suprimida.

Nas áreas urbanas é uma prática permanente, que visa garantir um conjunto de árvores vitais, seguras e de aspecto visual agradável. Para a correta utilização da poda, é necessário reconhecer os tres tipos básicos de poda em árvores urbanas e utilizar a que for mais recomendada para cada caso.

Desde a fase inicial da produção de mudas de espécies arbóreas em viveiros, até o momento em que a árvore possa desenvolver livremente seu modelo arquitetônico de copa, utilizamos a poda de formação ou educação.

Esta poda é aplicada para direcionar o desenvolvimento da copa contra a tendência natural do modelo arquitetônico da espécie, compatibilizando assim a árvore com os espaços e equipamentos urbanos.

Mesmo com a copa formada, as árvores necessitam de cuidados, com podas de manutenção ou limpeza, que visam evitar problemas futuros com galhos secos que possam cair, e a eliminação de focos de fungos e plantas parasitas, que enfraquecem os galhos.

Quando as podas anteriores foram executadas incorretamente, ou alterações do ambiente urbano incompatibilizam a copa das árvores com seu meio, aplica-se a poda de segurança. A finalidade desta poda é previnir acidentes iminentes.

Quanto maiores e mais velhas as árvores, mais delicadas se tornam as podas. Por isso o arboricultor deve conhecer as regras fundamentais que regem sua atividade:

A arquitetura da copa das árvores;

A fisiologia da compartimentalização;

As técnicas de poda;

As ferramentas e equipamentos mais apropriados para cada atividade.

2. A PARTE AÉREA DA ÁRVORE

2.1 ARQUITETURA DE COPAS

A estrutura de uma árvore, suas raízes, tronco galhos e folhas, não é produto de processos aleatórios. Todas as características de porte, forma da copa, disposição de folhas e flores, já estão pré-definidos na semente, antes da germinação.

Estas características estruturais são comuns aos indivíduos de uma mesma espécie, recebendo o nome de modelo arquitetônico da espécie. Em um trabalho criterioso, HALLÉ, OLDEMAN e TOMLINSON (1978), analisam os modelos arquitetônicos de muitas espécies arbóreas, e mostram que há diferenças marcantes entre as espécies neste aspecto.

O conhecimento das características de cada espécie, deve ser a base para a escolha de espécies arbóreas para a arborização urbana, pois facilitará tremendamente a posterior manutenção das copas através da poda. Para entender os modelos arquitetônicos básicos, é necessário conhecer os elementos fundamentais desta arquitetura, cuja combinação levará portanto às mais diversas formas de copa.

O meristema apical (gema terminal) pode ter vida indefinida ou definida. No primeiro caso, a gema crescendo indefinidamente em altura, origina troncos verticais retos (monopodiais).

Quando o meristema apical tem vida limitada, este crescimento linear em altura não ocorre. Após a morte do meristema apical, desenvolvem-se meristemas laterais (gemas das axilas das folhas) que estavam dormentes.

Neste caso temos troncos simpodiais, que podem em determinadas espécies se tornar quase lineares novamente (Fig: 1A). A diferenciação dos meristemas é outra característica que marca os modelos arquitetônicos.

A maioria dos meristemas inicialmente é vegetativa, e antes de ocorrer a morte, torna-se sexual, ou seja, no início são produzidas células sem diferenciação sexual, que originam o lenho e as folhas.

Por processos não bem definidos, estes meristemas passam por transformações, iniciando a geração de células sexuadas, presentes nas flores ou inflorescencias, culminando assim o crescimento do meristema. Quando um meristema vegetativo apical se transforma em sexual, automaticamente são estimulados meristemas vegetativos laterais.

Exemplos existem muitos nas espécies mais comuns da arborização urbana (Tabebuia spp., Lagerstroemia spp., etc.).

Outra característica dos meristemas é a direção do crescimento, fundamental para a definição da copa (e do tronco) das árvores. Os meristemas quando crescem para o alto, verticalmente, tem crescimento denominado ortotrópico.

Em outras espécies, os meristemas crescem horizontalmente, ou obliquamente, tendo portanto crescimento plagiotrópico. Esta plagiotropia pode ser permanente ou reversível. Neste último caso, inicialmente os meristemas crescem plagiotropicamente, mas no decorrer do período vegetativo tornam-se mais ou menos eretos, dependendo do espaço disponível (p. ex.Delonix regia).

Podagem de Árvores

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Podagem de Árvores

Os modelos arquitetônicos são diferenciados para cada espécie devido às suas exigências ecológicas distintas. A arquitetura da copa representa uma estratégia de ocupação de espaço no ambiente florestal, para melhor utilizá-lo de acordo com as características fisiológicas da espécie.

Compreendendo isto, podemos aproveitar melhor as características arquitetônicas de cada espécie, reduzindo os custos de manutenção e melhorando a vitalidade das árvores.

Se o espaço horizontal é limitado, espécies monoaxiais com eixos ortotrópicos serão a escolha mais acertada (p. ex. Cupressus sempervirens, fig. 2A). quando o espaço vertical é limitado, as espécies com eixos plagiotrópicos são mais recomendadas (p. ex. Tipuana tipu, fig 2B).

A programação do crescimento das espécies arbóreas é uma característica inata poucas vezes reversível. O ipê-roxo (Tabebuia avellanedae) possui crescimento ortotrópico definido, com uma ramificação dicotômica bastante peculiar (Fig. 3ª).

Mesmo assim, o crescimento vertical da copa predomina sobre o horizontal. Em outras espécies, os meristemas apicais e das gemas axilares tem padrões de crescimento distinto, resultando seu desenvolvimento em copas de arquitetura típica.

O sombreiro (Terminalia catappa) possui meristema terminal de crescimento indefinido e meristemas de gemas axilares de crescimento definido. O desenvolvimento destas gemas segundo um padrão típico da espécie resulta em copas monopodiais com crescimento semelhante, tnato para o alto, quanto para os lados. 

Modelos de copa de ipê-roxo (Tabebuia avellanedae) e sombreiro (Terminalia catappa). A largura das setas indica as taxas de crescimento

 

Podagem de Árvores

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Modelos de copa de ipê-roxo (Tabebuia avellanedae) e sombreiro (Terminalia catappa). A largura das setas indica as taxas de crescimento

 

Modelos de copa de ipê-roxo (Tabebuia avellanedae) e sombreiro (Terminalia catappa). A largura das setas indica as taxas de crescimento

Sempre deve ser dada atenção à possibilidade do total desdobramento do modelo arquitetônico de cada espécie. Controlar o crescimento da copa através da poda tem sentido apenas para direcionar a ocupação do espaço, nunca para delimitar o volume da copa. A restrição do desenvolvimento da copa é utilizada em algumas espécies arbóreas para obter formas de copas artísticas, com propósitos ornamentais (topiária). Esta prática exige no entanto muita atenção do podado r, com cortes freqüentes das extremidades dos ramos.

2.2 ASPECTOS BIOLÓGICOS DA BASE DOS GALHOS

2.2.1 A MORFOlOGIA DA BASE DO GALHO

A poda significa a retirada de galhos, ou porções de um organismo vivo, a árvore. Para que esta ação seja a menos traumática possível, devemos atentar para algumas características importantes dos galhos e suas características dinâmicas em relação ao resto do conjunto.

A análise da morfologia da base do galho permite avaliar a atividade metabólica das folhas deste galho, definindo o ponto mais correto para o seu corte. Os elementos básicos da base do galho são (Fig. 4): – a crista de casca: originada do acúmulo de casca na parte superior da base do galho, na inserção no tronco.

Devido ao crescimento em diâmetro do tronco e do galho, adquire desenho de meia-lua, com as pontas voltadas para baixo; – o colar: é a porção inferior da base do galho, na inserção do tronco.

Quando é pouco perceptível, com clara e harmônica passagem do tronco para o galho, este está em franca atividade assimilatória. Quando o colar se destaca do tronco, sendo claramente visível, o galho está em processo de rejeição, embora ainda possa ter folhas verdes e brotações novas.

Este entumescimento do colar é conseqüência do aumento do metabolismo na região e dos mecanismos de defesa para compartimentalizar a lesão que fatalmente ocorrerá com a morte do galho e sua quebra. – a fossa basal: é o colar inverso, ou seja, uma depressão no tronco abaixo da base do galho.

Quando presente indica uma falta de fluxo de seiva elaborada do galho para o tronco, mesmo com folhas vivas realizando fotossíntese. O galho já não contribui mais nada para o crescimento da árvore, estando prestes a secar.

Podagem de Árvores

Morfologia da base do galho e linha de corte final na poda de galhos.

 

2.2.2. REAÇÃO DAS ÁRVORES

À PERDA DE GALHOS

A perda de galhos no ambiente natural é motivada ou por rejeição, devido à ineficiência assimilatória, ou por acidente, sendo o vento a causa principal destes acidentes.

A maioria das espécies arbóreas possui mecanismos para reagir a estes traumas, sendo a rejeição dos galhos o fato mais comum. Neste caso, reações químicas nas células do tronco e da base do galho criam barreiras que visam impedir o avanço dos organismos degradadores da casca e lenho (fungos e bactérias) dos galhos para o lenho do tronco (SHIGO e LARSON, 1969; v.AUFSESS, 1975).

Estudos realizados na Alemanha por v.AUFSESS (1975) mostraram a especificidade de fungos para degradar galhos de diferentes espécies arbóreas e porções dos galhos (Tab. 1).

E embora estes fungos sejam especializados em desdobrar o lenho e a casca dos galhos, sua ação pode ser inibida por substâncias presentes nas células da base dos galhos.

 

Fungo Espécie florestal Material atacado
Trametes pini Pinus sylvestris
Abies Alba
Lenho do galho
Altermaria tenuis Pinus sylvestris
Abies Alba
Lenho e casca do galho
Stereum frustulosum
Polyporus sulphureus
Bispora betulina
Quercus robur Lenho e alburno do galho

Tabela 1 – Fungos que degradam a madeira de galhos de espécies florestais na Alemanha (de v.AUFSESS, 1975).

Cabe destacar que existe uma relação estreita entre a espécie florestal e os fungos degradadores de madeira dos galhos. No processo natural, após a morte do galho por ineficiência, este é colonizado por fungos, bactérias e insetos, que causam sua degradação.

Após o enfraquecimento do lenho, poderá ser facilmente quebrado, desde que as condições ideais ocorram: aumento do peso com uma chuva, impacto de outro galho caindo, ação do vento, etc.

Em condições de abrigo (povoamentos densos) e ambientes secos (desfavoráveis ao desenvolvimento dos fungos), os galhos podem permanecer secos conectados aos troncos por muitos anos.

Ou mesmo a quebra pode não ocorrer rente ao tronco, faltando posteriormente agentes que quebrem o toco restante. Este será incorporado ao lenho.

Quando os galhos perdem sua função,cedo, não tendo atingido ainda dimensões grandes, nem os troncos são muito grossos, o crescimento radial do tronco engloba os tocos remanescentes dos galhos.

Mais tarde, quando o tronco tiver atingido diâmetros maiores, desaparecem quaisquer vestígios de galhos. Este processo é denominado de desrama natural. Quando as taxas de crescimento radial são elevadas, esta incorporação dos tocos se dá rapidamente, ou contribue para reter galhos secos já quebrados na base, o que ocorre frequentemente em Eucalyptus sp..

A perda de galhos por ventos fortes pode ser por assim dizer um risco calculado. As espécies arbóreas mais sujeitas a este tipo de acidente normalmente já possuem mecanismos de defesa prontos para este evento. Talvez a espécie melhor preparada seja o pinheiro brasileiro (Araucaria angustifolia).

Mesmo que seja difícil quebrar um galho vital pela ação do vento, a base do galho já está preparada para impedir a penetração de fungos degradadores da madeira. O mesmo pode ser observado na imbuia (Ocotea porosa), embora os mecanismos sejam diferentes.

Quando os galhos vitais e de grandes dimensões quebram, a base do galho pode não estar preparada para a compartimentalização. As células mortas do centro do galho ou já estão preparadas para a compartimentalização, ou servirão de entrada de fungos degradadores de madeira.

A poda provoca um desequilíbrio entre a superfície assimilatória da copa (folhas) e a superfície de absorção de água e nutrientes (raízes finas) (EHSEN, 1987).

A reação da árvore será de recompor a folhagem original, a partir de gemas epicórmicas. Estas gemas podem estar dormentes, desde a formação dos galhos ou troncos, ou podem ser produto de uma morfogênese, quando ocorre uma transformação de células do câmbio para dar origem ao novo broto (RAST, BEATON e SONDERMAN, 1988).

Em ambos os casos, os galhos ou eixos produzidos a partir destas gemas possuem uma ligação deficiente com sua base, constituindo fator de risco mais tarde

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Posição dos brotos epicórmicos em troncos e galhos.
Detalhe: ligação dos brotos ao eixo maior.

Posição dos brotos epicórmicos em troncos e galhos.
Detalhe: ligação dos brotos ao eixo maior.

Uma poda severa produz uma profusão de brotos epicórmicos, desejados apenas em cercas vivas. Na poda de árvores, estes ramos epicórmicos apenas causam transtornos, sendo muitas vezes removidos no ano seguinte. Para ressurgirem.

Ramos epicórmicos sempre devem ser removidos, pois não sendo parte do modelo arquitetônico original, certamente causarão problemas futuros.

Evitam-se ramos epicórmicos com podas menos severas, e na fase jovem da árvore. Nesta fase as árvores possuem boa capacidade de desenvolvimento das gemas na parte externa da copa, não desenvolvendo os ramos epicórmicos. Galhos senis ou com pouca vitalidade ao serem eliminados, normalmente também não estimulam a brotação epicórmica.

A perda de galhos e conseqüente exposição da base do tronco pode ter ainda um efeito negativo denominado de “queima da casca”. Determinadas espécies arbóreas possuem casca pouco protegida contra altas temperaturas, por estarem adaptadas a ambientes com menos energia (troncos sempre no interior da floresta, protegidos).

A exposição súbita a altas temperaturas geradas pela insolação direta, causa a morte das células da casca na parte exposta, prejudicando sensível mente a árvore.

A quebra de galhos vivos ou a morte de galhos faz parte da vida de uma árvore. E assim sendo, as árvores devem estar preparadas para se proteger contra a ação de organismos programados para degradar biomassa vegetal, mantento a ciclagem de nutrientes ativa. Este processo de proteção recebe o nome de compartimentalização da lesão, e visa criar no interior do tronco barreiras para evitar o crescimento dos fungos degradadores.

2.2.3 A COMPARTIMENTALIZAÇÃO DE LESÕES

Para realizar a poda correta em árvores urbanas, faz-se necessário observar o que naturalmente ocorre nas árvores antes e após a perda de um galho.

Estas alterações não se resumem na simples perda física. Como todo ser vivo, a árvore tem mecanismos e processos de defesa para reduzir os riscos de morte total após uma lesão. Mas diferente dos organismos animais, o tecido vegetal não cicatriza, com substituição das células injuriadas. No tecido vegetal são processadas alterações químicas no interior das células atacadas, e formadas novas células para recompor parcialmente a estrutura afetada. Este processo é denominado de compartimentalização (SHIGO e LARSON, 1969; TIPPET e SHIGO, 1981; PEARCE, 1982; SHIGO, 1984).

A compartimentalização pode ser dividida em quatro etapas, segundo EBERT (1989), (Fig. 6): Reação 1: As células antes de perderem sua função (vida) ou as próximas de uma lesão alteram seu metabolismo, passando a produzir taninos, para dificultar a dispersão de patógenos. Inicialmente são produzidos polifenóis hidrosolúveis.

Reagindo com aminoácidos, alcalóides e íons metálicos, são formados complexos de baixa solubilidade, que recobrem as paredes celulares, provocando alterações na cor do lenho.

Esta reação com as proteínas é mortal tanto para as células próprias quanto para as dos invasores. As células antes de morrerem ainda conseguem se impregnar de substâncias repelentes de água (cutinas e suberinas). Reação 2: Os vasos que dão acesso aos galhos são bloqueados.

Em coníferas, como na Araucaria angustifolia, em Pinus taeda, em P. elliottii, etc. os traqueideos são bloqueados com resinas. Em folhosas, látex ou gomas são produzidas.

Em situações especiais inclusive células parenquimáticas podem crescer para dentro dos vasos através das pontoações, formando tilos que obstruem os vasos. Cristais também podem ser. depositados para obstruir os vasos. Reação 3: Aumenta a atividade metabólica das células adjacentes à lesão. As células são enriquecidas com açúcares. O câmbio passa a produzir mais células parenquimáticas.

O metabolismo destas células muda para a síntese de substâncias antibióticas. As substâncias mais eficientes para conter o avanço dos fungos são polifenóis denominados de flavanóis. Estas substâncias, embora tóxicas para o próprio organismo, também impedem o crescimento dos fungos.

Desta forma, a árvore vai produzindo células e sacrificandoas com toxinas, para conter o avanço do micélio. Reação 4: As células do câmbio e parênquima floemático se multiplicam em velocidade maior, para recobrir a lesão. Ricas em suberinas, estas células se protegem eficientemente contra o avanço dos fungos, desenvolvendo-se inclusive sobre células contaminadas. O fechamento da lesão, embora se processe em todos os lados, é mais ativo nas laterais da lesão. sendo menos intenso na parte superior e inferior.

 

Em algumas espécies arbóreas as reações 1 e 2 são uma efetiva preparação do lenho para o caso da quebra de galhos. Na Araucaria angustifolia a quebra de galhos é um processo natural, para o qual a espécie está perfeitamente adaptada.

Desde o início da formação do galho, sua inserção no tronco está preparada para uma eventual quebra. O nóde-pinho ilustra perfeitamente esta proteção, pois nada mais é, que o conjunto de células enriquecidas com resina, para evitar a penetração de organismos patógenos no tronco.

Mesmo galhos de 20 cm de diâmetro, ao quebrarem, deixam no tronco uma estrutura biologicamente resistente, permitindo anos de exposição aos agentes degradadores sem contudo ser afetada.

Esta proteção dura além da morte da árvore, e muitos anos após ter deteriorada a madeira do tronco após queda de uma árvore, os nós ainda estão intactos no solo.

Os processos de compartimentalização dependem da atividade metabólica, portanto de células vivas. Quando ocorre uma lesão, as células inertes no interior do tronco não podem mais se proteger. Estão portanto sujeitas à ação de fungos degradadores úteis para desintegrar galhos secos, mas prejudiciais quando conseguem penetrar no tronco.

Para a poda, esta compartimentalização é fundamental, pois evita a dispersão da degradação da madeira a partir da superfície do corte. Galhos com células vivas em toda a sua secção transversal conseguem compartimentalizar a lesão, através da mudança do metabolismo destas células.

Quando os galhos atingem diâmetros maiores (e idades mais avançadas), ocorrendo a morte das células no centro do galho, esta compartimentalização é incompleta, trazendo portanto riscos para a estabilidade da árvore. Este é portanto um dos motivos para promover a poda dos galhos o mais cedo possível, não deixando que estes se desenvolvam atingindo grandes dimensões.

Outra conseqüência desta relação entre o processo de compartimentalização e o metabolismo celular é a definição da época de poda. Quanto mais ativo for o metabolismo, mais rápida se processará a compartimentalização. O início do período vegetativo é portanto a época mais propícia para a realização da poda.

O tratamento da superfície do corte com produtos inibidores da atividade microbiana, ou é ineficiente, ou causa mesmo danos ao processo de compartimentalização (MERCER, 1982; SHIGO, 1984; SHIGO e SHORTLE, 1984).

Os fungicidas normais são ineficientes normalmente. As alternativas promissoras estão no uso de substâncias estimuladoras do crescimento do calo cicatricial ou na semeadura de fungos antagônicos dos degradadores da parede celular. De modo algum deve ser interferido no processo natural de compartimentalização.

O processo de compartimentalização possui duas frentes de ação dentro da árvore. A formação do cerne em uma espécie arbórea nada mais é do que a primeira reação se processando nas células mais velhas, no interior do tronco. Em muitas espécies esta proteção é tão eficiente, que confere características de alta durabilidade à madeira (p.ex. na imbuia – Ocotea porosa).

A base para o processo de compartimentalização das lesões de galhos mortos ou quebrados são as células do colar. Se o colar for lesionado, perderá sua eficiência protetora, ocorrendo a penetração de fungos não mais pela base do galho, com a barreira protetora ativa, mas sim pelas células adjacentes do lenho, lesionadas. Esta invasão também poderá ser compartimentalizada, porém com o sacrifício de células vivas.

A conseqüência na madeira será a concentração de resinas ou gomas e a mudança de cor da madeira, devido aos polifenóis (a cor vermelha ou marrom indica a presença destas substâncias na madeira).

A correta compreensão da compartimentalização e das reações das árvores a lesões não é importante apenas para a poda. Todas as práticas de manutenção das árvores, tem como limitante a pouca capacidade das árvores de se defenderem de ataques que lesionem a casca do tronco. Intacta, a casca é uma barreira excepcional para evitar a ação de insetos e fungos. Lesada, pode se tornar porta de entrada de organismos patógenos.

2.2.4 A OCLUSÃO DOS CORTES DE GALHOS

Para a correta execução dos cortes de galhos, é imprescindível conhecer os processos de multiplicação das células que comandam o crescimento do tronco.

A multiplicação celular em um organismo vegetal ocorre nas gemas terminais, promovendo o aumento de altura e comprimento dos galhos, e no câmbio, a região sob a casca (floema), antes do lenho (xilema), promovendo o crescimento em diâmetro dos troncos. Esta última região é fundamental para a poda. Apenas as células do câmbio se dividem e multiplicam. A destruição destas células (p.ex. pelo descascamento) interrompem o crescimento em diâmetro do tronco.

As células do câmbio se dividem basicamente em dois planos: – a divisão periclinal, em um plano tangencial ao tronco, aumentando o diâmetro do tronco; – a divisão anticlinal, em um plano radial ao tronco, para aumentar o número de células a medida que aumenta o perímetro do tronco (Fig. 7).

Analisando agora a conformação da base do galho, observa-se que o plano de divisão periclinal, principal responsável pela oclusão dos cortes, varia de acordo com a posição da célula, se no galho, colar ou tronco (Fig. 8). Na base do galho (colar), o plano de divisão periclinal é no sentido do eixo do galho.

Portanto o corte sem danificar estas células, provocará a oclusão mais rápida. Isto pode ser constatado algum tempo após a poda, pelo anel completo que forma o tecido cicatricial (Fig. 9, A). Anéis incompletos são motivados normalmente por cortes incorretamente localizados (Fig. 9, B e C).

 

2.3 TÉCNICAS DE CORTE DOS GALHOS

2.3.1 PODA DE EDUCAÇÃO

A poda dos galhos deve ser realizada o mais cedo possível, para evitar cicatrizes muito grandes, desnecessárias. A poda de formação na fase jovem sempre é uma mutilação, devendo ser executada com cuidado.

O arboricultor deve ter em mente o modelo arquitetônico da espécie, considerando portanto o futuro desenvolvimento da copa no espaço em que a árvore está estabelecida. Galhos baixos que dificultarão a passagem de pedestres e veículos deverão ser eliminados precocemente.

Galhos que cruzarão a copa ou com inserção defeituosa deverão igualmente ser eliminados antes que os cortes se tornem muito difíceis. O atrito de dois galhos provocará lesões enfraquecendo o lenho destes.

Quando a gema terminal de árvores com eixos diferenciados em ortotrópicos e plagiotrópicos for danificada, normalmente o modelo arquitetônico original é substituído por um modelo sem organização.

Os galhos de Araucaria angustifolia, o pinheiro brasileiro, nunca darão origem a novo eixo ortotrópico. Isto nesta espécie só é possível a partir de gemas epicórmicas do eixo principal, distintas das gemas epicórmicas dos galhos (que formarão novos galhos plagiotrópicos).

Já os galhos plágiotrópicos de Terminalia sp. produzem uma volumosa copa ortotrópica quando for eliminada a gema apical do eixo principal. Porém o modelo original é perdido, desaparecendo a ramificação típica desta espécie. Nas árvores com todos os eixos vegetativos ortotrópicos, a perda da gema apical é corrigida com a liderança de um ou vários dos outros eixos. Neste caso deve ser feita a poda para selecionar um eixo líder apenas.

Caso contrário estaremos criando um potencial ponto de ruptura neste tronco múltiplo mais tarde. Isto ocorre com freqüência em Cupressus sempervirens, inicialmente plantado como cerca viva e podado para não ultrapassar uma determinada altura. O abandono da poda constante permite o desenvolvimento de troncos múltiplos, com alto risco de quebra.

2.3.2. PODA DE MANUTENÇÃO

Na poda de manutenção são eliminados basicamente galhos senis ou secos,que perderam sua função na copa da árvore. Estes galhos podem em algumas circunstâncias ter dimensões consideráveis, tornando o trabalho mais difícil do que na poda de formação. Na execução desta poda deve ser dada especial atenção à morfologia da base do galho. O procedimento para cortar galhos de dimensões maiores (acima de 5 cm), é denominado de 3 cortes (Fig. 10).

Primeiramente faz-se um corte na parte inferior do galho, a uma distância do tronco equivalente ao diâmetro do galho, ou no mínimo 30 cm. Este corte não precisa ser profundo, 1/3 do diâmetro do galho é suficiente.

O próprio peso do galho dificultará a ação da serra. O segundo corte é feito na parte superior do galho, mais distante do tronco, uns 2 a 3 cm além do corte inferior, até a ruptura do galho.

O terceiro corte visa eliminar o toco remanescente. Sem estar sendo forçado pelo peso do galho, este corte muitas vezes deverá ser feito de baixo para cima, preservando o colar e a crista de casca intactos. Isto porque, a serra nem sempre pode ser corretamente posicionada na parte superior do galho, devido ao angulo de inserção muito pequeno.

O corte de galhos pesados sem os tres cortes, provocará danos no tronco logo abaixo do galho, com descascamento ou mesmo extração de lascas do lenho. Estas são portas de entrada para patógenos, indefensáveis.

Através do primeiro e segundo corte pode se dar uma direção de queda ao galho, sendo possível assim desviar obstáculos entre o galho e o solo, como fios de energia elétrica, telefone, beirais de telhados ou mesmo outras plantas no solo (Fig. 11). Com o auxílio de cordas este direcionamento se torna ainda mais fácil.

 

Figura 10 – Posicionamento dos três cortes em galhos grossos (diâmetro maior que 2 cm).

2.3.3 PODA DE SEGURANÇA Esta poda técnicamente é semelhante à poda de manutenção, com a diferença de ser praticada em galhos normalmente vitais ou não preparados pela árvore para o corte. A alternativa para esta eventualidade, é o corte em etapas. Na primeira poda, o galho é cortado a uma distância de 50 a 100 cm do tronco.

O galho assim debilidatado provocará a ativação dos mecanismos de defesa. Após um ou mais períodos vegetativos, procede-se à segunda poda, agora junto ao tronco, concluindo a operação de remoção do galho.

 fonte: Portal São Francisco

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